Resíduos do açaí se transformam em assento de bancos
escolares
Fruto símbolo do Pará, o açaí, tomado puro, na tigela com
farinha, com ou sem açúcar, versátil como é, já virou sabor de sorvete, iogurte
e até energético. Pesquisas mostram que, além de saboroso, o açaí é rica em
ferro e também um potencial redutor do nível de colesterol. Mas se engana quem
pensa que os benefícios do fruto terminam aí. Eles são muitos e vão da polpa
até o caroço.
Em Salvaterra, no Arquipélago do Marajó, o fruto ganhou
outra utilidade. A partir da coleta dos caroços descartados pelos batedores
artesanais de açaí é possível produzir, acredite, assentos de bancos escolares.
Com cerca de 900 gramas do caroço triturado são confeccionados assentos
destinados a escolas públicas rurais do município, frequentadas nornalmente por
crianças carentes.
A ideia de transformar os caroços em bancos foi tema do
Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da egressa de Tecnologia de Alimentos da
Universidade do Estado do Pará (Uepa), campus Salvaterra, Joseane Gonçalves
Rabelo, 42 anos. O Trabalho foi orientado pela doutora em Engenharia Agrícola,
Carmelita de Fátima Amaral Ribeiro, pela co-orientada Núbia Santos, e auxiliado
pelo Técnico de Laboratório Rosivan Matos.
Na cidade marajoara, Joseane e Carmelita notaram o acúmulo
de resíduos gerados pelos batedores artesanais e por não ter nenhum tipo de
beneficiamento, os caroços ficavam acumulados pelas ruas. “Isso traz poluição.
Com o trabalho, a intenção é retirar esses resíduos, que nada mais são do que
lixo depositado nas ruas, promovendo mau odor, atraindo ratos e gerando uma
poluição visual cada vez maior”, diz a professora Carmelita de Fátima.
A produção do móvel ocorreu por etapas. As sementes foram
coletadas, em seguida lavadas e secadas ao sol por um período de 25 a 30 dias.
No laboratório, os caroços foram triturados, peneirados, adicionados à cola
branca e, posteriormente, enformado e prensado. A prensagem ocorreu no
Laboratório de Design do Centro de Ciências Naturais e Tecnologia (CCNT), em
Belém.
O resultado do processo foi uma chapa de conglomerado,
moldada na altura, tamanho e espessura para o assento do banco usado pelas
crianças. As pernas foram produzidas a partir da madeira típica da região, a
Ananin. O banco foi testado até por adultos, que aprovaram a ideia. Segundo a
professora Carmelita, o material produzido a partir de resíduos agroindustriais
de açaí é de extrema resistência.
“Eles ficaram prontos em menos de um dia, sendo que tem um
tempo a mais de secagem dos materiais para poder montar. O banco mede
aproximadamente 40 x 40 cm², já direcionado para as crianças. O material tem
flexibilidade, durabilidade e pode ser usado na fabricação de qualquer móvel
como mesas, cadeiras, estantes, além de quadros para paredes”, diz a
professora.
A tecnóloga em alimentos Joseane Gonçalves almeja produzir o
móvel para as crianças em grande escala e já pensa na possibilidade de
confeccionar bancos também para as praças de Salvaterra. “A maioria dos bancos
de concreto nas praças estão quebrados, sem falar nos colégios, que muitos não
têm. O nosso produto era um que estava no lixo e hoje podemos reaproveitar”,
ressalta.
Nenhum comentário :
Postar um comentário